O tempo de adaptação de uma fábrica ou de treinamento dos funcionários para produção de novos itens varia muito. Pode ser de vários meses, em situações normais. Mas precisa ser de alguns dias quando uma crise mundial desencadeia a necessidade. A pandemia do Covid-19 forçou essas adaptações e fez marcas de luxo reinterpretarem o momento econômico.
As primeiras grandes marca a anunciarem que alterariam suas plantas fabris para produzir uniformes médicos e máscara na Itália foram Gucci, Armani, Valentino, Prada, Salvatore Ferragamo, Fendi e Miroglio. Para isso, as marcas precisaram de certificações que foram concedidas em menos de 10 dias. A maioria entrega os tecidos às costureiras que trabalham em casa. Mas a Prada, por exemplo, manteve sua fábrica aberta em Peruggia, exclusivamente para essa nova produção. Os trabalhos adaptados, que começaram dia 18 de março, tinham como meta entregar até a semana anterior à Páscoa 110 mil máscaras de proteção e 80 mil jalecos médicos.
A Gucci deve produzir um milhão de máscaras.
O grupo Armani também alterou toda a sua linha de produção para confeccionar macacão de proteção para uso único. Armani tinha sido o primeiro criador a entender os perigos e as formas de transmissão do Covid-19 e, no dia 23 de fevereiro de 2019, decidiu fazer o desfile sem público para evitar aglomerações na Fashion Week de Milão.
A indústria cosmética e de embalagens também compreendeu que tinha uma arma poderosa em mãos. Assim, a produção dos perfumes mais caros do mundo foram interrompidas para dar espaço a tonéis de álcool gel. A LVMH, que é um grupo francês responsável pelos perfumes de grandes grifes – Dior, Givenchy e Gerlain – deve entregar cerca de 12 toneladas de álcool gel – atualmente, artigo de primeira necessidade.
Respiradores na Indústria automobilística
A produção de equipamentos médicos maiores exige parcerias mais elaboradas. E elas se articularam rapidamente quando a indústria automobilística e aeronáutica foram convocadas. No mundo, o principal fabricante de respiradores artificiais – máquina fundamental no tratamento de pessoas acometidas com a forma grave da doença – é o grupo suíço Hamilton Medical. Eles têm capacidade de produzir 220 aparelhos por semana e se organizaram para dobrar esse número. Mas essa quantidade está longe de atender a demanda mundial. Por isso, empresas como a Airbus, a Ford, A Rolls Royce, a Siemens e a Mercedes Benz estão mudando suas fábricas e ampliando as junções com fornecedores de peças para produzir esses equipamentos. A McLaren e a Universidade de Southampton criaram o protótipo de um capuz com capacidade de proteger profissionais de saúde. O novo equipamento entrega ar limpo, 99,6% livre de bactérias, a quem o usa. As iniciativas dessas grandes marcas começaram no Reino Unido, foram adotadas por outros parques industriais na Europa, e se ampliaram para os Estados Unidos.
No Brasil, a fábrica da Mercedes Benz foi a primeira a se estruturar para a produção de respiradores de baixo custo. Mas o Senai fez uma parceria com onze grandes empresas para consertar respiradores que estão parados por falta de manutenção. Arcelor Mittal, Fiat, Ford, GM, Honda, Jaguar, Land Rover, Renault, Scania, Toyota e Vale estão juntos no recolhimento e organização desse material. Segundo a Associação Catarinense de Medicina e a Lifeshub Analytics, estima-se que chegue a 3600 o número de respiradores encostado por falta de manutenção. Além disso, com o aumento da pandemia, muitos aparelhos deverão ser revisados devido ao uso intenso. A ideia é que tanto as linhas industriais estejam preparadas para isso (higienizadas e com as ferramentas adequadas) quanto os técnicos estejam treinados para a realização dos consertos ou, quem sabe em breve, a montagem de novas máquinas.