Não é novidade que a população mundial cresce mais a cada ano. Em 2019, somos 7,6 bilhões, e até 2030, a ONU prevê que chegaremos a 8,6 bilhões de habitantes.
Muitas são as consequências geradas por esse aumento, mas duas ganharam a atenção especial de pesquisadores da Austrália e África do Sul: a necessidade de construir novas moradias e a geração cada vez maior de lixo e esgoto.
É possível resolver juntas essas questões? A resposta para essa pergunta vem na forma de tijolos feitos com matérias-primas não convencionais: cocô, xixi e bitucas de cigarro! Descubra um pouco mais sobre essas invenções:
Tijolos de biossólidos (ou se você preferir, cocô humano)
Você já pensou que sua ida ao banheiro pode fornecer material para a construção civil? É esse o objetivo de um grupo de pesquisadores do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, na Austrália, que criaram tijolos feitos com biossólidos.
Os biossólidos nada mais são do que um subproduto gerado após as etapas de tratamento de esgoto, ou seja, são resíduos humanos concentrados depois de serem processados. Normalmente, são despejados no oceano ou destinados a aterros sanitários, onde ocupam espaço e podem gerar gases, que contribuem para o efeito estufa.
Para a fabricação dos tijolos, os biossólidos são secos, misturados com solo argiloso e cozidos da mesma maneira que um tijolo tradicional. A diminuição do gasto de energia neste processo é uma das principais vantagens apontadas pelos pesquisadores, o que acontece por causa do alto nível de material orgânico.
Outro ponto positivo é a menor condutividade térmica dos tijolos quando comparados aos tradicionais, isso resulta em um nível maior de isolamento térmico, ou seja, reduz a entrada e saída de calor do ambiente.
“Os tijolos de biossólidos têm a mesma aparência, o mesmo cheiro e possuem propriedades físicas e mecânicas semelhantes aos tijolos de barros normais”, explica o Professor Abbas Mohajerani, líder dos pesquisadores. Ele acredita que, no futuro, depois de passar por mais alguns estudos, a inovação será usada em larga escala pela indústria.
Bio-tijolo (ou tijolo de xixi)
O “número 1” também tem vez quando o assunto é produzir tijolos. A urina humana é a base dos bio-tijolos, criados na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.
Ao contrário dos tijolos comuns, os bio-tijolos são feitos em temperatura ambiente. São resultado de um processo químico natural que funciona do seguinte modo: uma determinada linhagem de bactérias é adicionada à areia, a união produz uma enzima chamada urease; quando a urina é adicionada a esta mistura, ocorre a produção de carbonato de cálcio, que gera uma espécie de cimento, solidificando a areia em tijolos. Quanto mais tempo a bactéria fica em ação, mais fortes são os produtos gerados.
O projeto ainda está em desenvolvimento e os pesquisadores enfrentam questões de logística, como a coleta e o transporte da urina em grande escala.
Tijolos de bitucas de cigarro
Alguns anos antes de começar a desenvolver os tijolos de cocô, a equipe do Professor Mohajerani trabalhou com outra opção: as bitucas de cigarro.
Na melhor das hipóteses, bilhões de bitucas de cigarro são descartadas nos lixos todos os dias. Pouco biodegradáveis, elas levam anos para se decompor, além de soltarem metais pesados e substâncias tóxicas no solo e na água.
Os tijolos de bitucas de cigarro evitariam esses problemas. Muito semelhantes a versão tradicional do produto, eles ainda apresentam vantagens. Diminuem em até 58% a energia necessária para a produção e geram materiais mais leves, com propriedades melhores de isolamento.
Além disso, durante a queima, os metais pesados e outros poluentes das bitucas são presos e ficam imobilizados dentro dos tijolos, não gerando nenhum tipo de dano ao meio ambiente ou aos humanos.