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Mais 6ºC e teremos hidrelétrica em savana amazônica, em 2070

Relatório feito por mais de 300 cientistas prevê aumento de 6ºC na temperatura e redução de 45% da chuva na Amazônia, a nova fronteira hidrelétrica nacional

Por Por Vanessa Barbosa de Exame.com
Atualizado em 20 dez 2016, 21h38 - Publicado em 10 set 2013, 19h02

São Paulo – O primeiro relatório de avaliação nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, feito por mais de 300 pesquisadores e divulgado nesta segunda, pinta um cenário nada animador para o clima no Brasil até o final do século. Em uníssono, eles alertam que todos os biomas do país estão vulneráveis às mudanças climáticas.

Segundo a projeção mais crítica, a Amazônia poderá sofrer redução nas chuvas de 40% a 45% e aumento de 5º a 6º C na temperatura entre 2070 e 2100. Se nada for feito, a maior reserva de biodiversidade do mundo e o maior bioma do Brasil – ocupando quase metade  do território nacional – poderá virar savana.

Além das perdas ambientais, a previsão soa como alerta para o planejamento energético: por seu potencial, a Amazônia constitui, hoje, a nova fronteira hidrelétrica nacional.

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Existem mais de 100 projetos de aproveitamento de usinas na região, entre grandes hidrelétricas e pequenas centrais (PCH), de acordo com o Relatório de Acompanhamento de Estudos e Projetos de Usinas Hidrelétricas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A vulnerabilidade das usinas ao humor do clima é um ingrediente que promete apimentar ainda mais a polêmica que envolve a construção de grandes hidrelétricas na Amazônia, a exemplo do debate em torno de Belo Monte, e seus impactos socioambientais, incluindo a questão indígena.

Não é preciso ir longe. Atualmente, a falta de chuvas tem levado os reservatórios a níveis preocupantes, principalmente no Nordeste, que obrigam o acionamento das usinas termelétricas, grandes emissoras dos gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global.

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A ameaça decorrente das mudanças climáticas soma-se, ainda, àquelas provenientes de um vilão antigo – o desmatamento, que já consumiu 18% da cobertura original da floresta nas últimas décadas.

A conservação das florestas tem papel fundamental na geração de energia em usinas hidrelétricas, conforme mostra um estudo publicado recentemente na revista científica Pnad.

Um desmatamento de 40% na bacia do Xingu poderia fazer a produção de energia de Belo Monte cair a 25% do máximo da capacidade em 2050. Juntos, o desmatamento e as usinas térmicas podem potencializar ainda mais os efeitos das mudanças climáticas.

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O que pode ser feito

 

Nada disso, contudo, espanta os cientistas. A constatação que causa surpresa é a do quão pouco se sabe sobre a capacidade de cada bioma se adaptar aos novos cenários e o que pode se feito em termos de mitigação e adaptação.

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“É onde abrimos os intestinos da ciência brasileira. Falta uma estrutura maior de investimento que nos ajude a encontrar maneiras para evitar o pior”, diz Eduardo Assad, pesquisador do Painel e uma das maiores referências em clima no Brasil.

“Ainda há uma incerteza muito grande. Por isso, precisamos fazer diferente, por precaução. Temos 8 mil km de costa no país e nenhum sistema de geração de energia a partir das ondas do mar”, diz o cientista, que critica o foco na construção de novas usinas hidrelétricas.

“Grande parte do setor de geração de energia elétrica trabalha com demanda. Eles esquecem de perguntar se vai ter água eternamente”, pondera.

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Além da geração de energia a partir de ondas do mar, Assad destaca o potencial da energia solar, especialmente dos sistemas de aquecimento de água. “Hoje, 17% da energia elétrica fornecida no Brasil é pra aquecimento do chuveiro”, afirma. “Isso é uma Itaipu”.

Para o especialista, com mais estímulos à fonte termo solar, que é uma tecnologia disponível no mercado, seria possível diversificar a matriz energética e diminuir a dependência de hidrelétricas.

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