O casal de moradores deste apartamento compraram esse apê de 90m² já com a intenção de colocar tudo abaixo para integrar os espaços. Para esta missão, entrou em cena a arquiteta Ana Neri.
Originalmente, o apartamento tinha três quartos, sala e cozinha super apertados. Os clientes pediram então para abrir e integrar os espaços, tornando a circulação mais fluida, e melhorar a iluminação natural, que já era ótima. Com a reforma, um dos quartos virou sala de estar, as áreas da antiga cozinha e do primeiro quarto se fundiram, abrindo a espacialidade para a nova sala de jantar e para uma cozinha aberta, integrada e muito arejada.
Com uma marcenaria em tom terroso e piso em ladrilho hidráulico da mesma família cromática, certamente a cozinha não só se tornou o ambiente de transição do apartamento como o imã visual e de encontro dele. A arquiteta reproduziu neste espaço as esquadrias originais da construção, com o objetivo de organizar as visadas internas e trazer uma unidade para elas, além de buscar uma atmosfera de casa.
Outro quarto da planta original do apartamento deu lugar à nova sala de estar, junto à varanda – ambiente que, desde o “dia zero”, foi dito pelos clientes, como o preferido do novo apartamento.
Segundo a arquiteta, um dos grandes desafios do projeto foi entender como as transições entre os ambientes se dariam, de forma fluida, leve e ampla. O reforço estrutural com as vigas metálicas possibilitou que o apartamento ganhasse um caráter de “transparência” e permeabilidade. Mas, além disso, as conexões entre os espaços também se deram através do jogo cromático nas volumetrias e nas marcenarias que “conversam” entre si.
A intenção projetual de estabelecer uma volumetria colorida, em uma área do apartamento que originalmente era apenas divisória entre quartos, permitiu organizar as transições e camuflar o acesso ao quarto e banheiro. A porta em muxarabi (pintada de verde) foi um dos itens garimpados pelos próprios clientes, trazendo textura, ventilação e, de certa forma, iluminação para o pequeno hall.
A porção do fundo desse apartamento contemplava uma dependência de serviço completa. Com as mudanças feitas no layout, esta área foi dividida em três ambientes: lavabo social, escritório e apoio de serviço. O lavabo ganhou uma roupagem monocromática, presente no ladrilho hidráulico e na pintura nas paredes, em tons de rosa bem próximos.
Já o espelho antigo, também garimpado pelos clientes, garantiu uma mistura boa de elementos e estilos buscada pelo projeto. “Esse fundo do apartamento nos trouxe algumas boas e gratas surpresas, que só elevaram a qualidade espacial e estética do apartamento. Uma delas foi a possibilidade de abertura completa do que antes, na planta original, era um quarto de serviço e transformamos em escritório.
Sem dúvidas, essa mudança possibilitou a ampliação, o respiro e a integração do escritório com a área de serviço, que é super iluminada e arejada”, relata Ana Neri. “A segunda boa surpresa foi o tijolinho de demolição, maciço, que encontramos ao descascar as paredes e, por unanimidade, decidimos mantê-lo aparente para reforçar ainda mais a atmosfera que buscávamos”, acrescenta ela.
O banheiro original foi ampliado para permitir a instalação de uma bancada mais ampla e confortável. Para potencializar a luz natural, foram usados revestimentos e texturas em cores claras. Já a iluminação (artificial) frontal acontece de forma indireta, tanto na marcenaria sob medida do espelho como também nas arandelas “globo” acima dele. Repare no revestimento do box em ladrilho hidráulico com desenhos coloridos e delicados, no piso de pastilhas hexagonais e no rodapé em madeira, que contribuíram para dar um toque vintage e deixar espaço mais acolhedor.
De visual leve e claro, no quarto do casal, a lateral do armário e um pequeno trecho inicial de parede foram transformados em uma estante estreita, deixando o acesso ao cômodo mais vivo e aquecido.
Outro destaque é o móvel apoio em madeira clara (fixado na parede, em frente à cama), com gavetas que ajudam a organizar itens pessoais dos clientes, sem poluir visualmente, e as pequenas prateleiras metálicas com função de mesas laterais de apoio à cama. Já a pintura azul – até meia altura da parede da cama – ajudou a vestir a cabeceira. Por fim, a marcenaria do armário ganhou palhinha natural na parte de baixo, trazendo textura e movimento ao desenho do móvel, enquanto a parte superior ganhou acabamento em laca cinza claro.
Na planta original, a varanda era um ambiente conectado apenas a um dos quartos e os clientes pediram para trazê-la também para o ambiente social do apartamento. O azulejo português é original e foi mantido, enquanto o piso foi substituído por ladrilho hidráulico na cor mostarda. “O lavatório baixo, em um dos cantos da varanda, também é original e, claro, o mantivemos por ali para uso e para preservar a memória arquitetônica do imóvel”, finaliza a arquiteta Ana Neri.