O Tivoli Avenida Liberdade, o icônico hotel de luxo de Lisboa com mais de 90 anos de história, apresenta até 30 de setembro a exposição “A mata não pede passagem“, primeira individual do artista nipo-brasileiro Nathan Kunigami do Kokuga Estúdio de Flores. Utilizando os conceitos de ikebana, antiga arte japonesa dos arranjos florais, a instalação site-specific propõe a utilização do espaço de forma que as pessoas interajam ativamente com a proposta do artista.
Filho de mãe brasileira e pai japonês, Nathan Kunigami começou a criar arranjos florais após estudar ikebana, a milenar arte japonesa de arranjos florais, com uma artista em Tóquio (Japão), em 2017. Nascido no Rio de Janeiro e criado por uma linhagem de mulheres que tinham por hábito colorir a casa e a varanda com flores frescas, desde cedo se interessou por botânica. Em 2018, após trabalhar 8 anos no mercado de comunicação para marcas de luxo, Nathan decidiu sair do mundo corporativo para se dedicar exclusivamente ao mundo da botânica e fundou o Kokuga Estúdio de Flores. O nome Kokuga é uma homenagem à sua ascendência japonesa, já que este é o nome original da família de Nathan.
“A mata não pede passagem”
Na cultura popular brasileira, influenciada pelas suas raízes indígenas, há a crença de que devemos sempre pedir licença antes de entrar no mar ou na mata. Uma reverência e respeito às entidades que ali habitam – o ato de pedir licença reconhece a floresta como um lugar sagrado. A exposição “A mata não pede passagem” faz uma ode à força e à resiliência da natureza, apesar do seu constante apagamento pelo homem no decorrer dos séculos.
Inspirado pela imagem de uma flor a brotar de uma rachadura no asfalto, o artista floral encontrou o seu ponto de partida para desenvolver as duas peças site specific presentes na mostra feitas de amaranthus preservado, ráfia, palmeiras e orquídeas. A primeira tem o intuito de despertar o interesse e a estranheza de quem a vê antes mesmo de entrar no hotel. É uma escultura botânica amórfica que invade um espaço que não lhe pertence, mas que já foi seu. Intitulada “Davina”, é uma homenagem a avó de Kunigami que sempre foi apaixonada por botânica.
“Há algum tempo tenho o desejo de criar peças em grande escala. Quando recebi o convite do Tivoli para desenvolver as instalações no lobby do hotel, fiquei extremamente lisonjeado e também entusiasmado com o projeto. O meu intuito foi criar algo belo, mas também provocativo. Minhas peças sempre têm alguma estranheza nelas e estas não são diferentes. A ideia é forçar quem ali passa a desacelerar, mesmo que por alguns segundos”, diz Nathan Kunigami.
Já a segunda – um conjunto de três esculturas – eleva o que deveria ser terreno. Ao apresentar essas peças flutuantes, o artista propõe uma reflexão sobre a nossa relação com a natureza. Assim como no ikebana, a composição apresenta três elementos: Shin (Céu), Soe (Terra) e Tai (Humanidade). O objetivo dessa composição é o de encontrar a harmonia entre os três.