Diretamente de Tatuí (interior de São Paulo) para os Emirados Árabes, o arquiteto e estilista Vincenzo Visciglia é considerado uma das 100 personalidades mais influentes da nação. Com projetos exuberantes e luxuosos, Visciglia consolidou seu nome entre clientes influentes, incluindo a Família Real Saudita, para quem projetou o palácio, e a Galeria Lafayette.
Há 8 anos, o estilista lançou sua própria marca de roupas de alta costura junto a Ahmad Ammar – a AAVVA Fashion, que conquistou celebridades e mulheres de sheiks com suas peças de luxo. Entre elas, estão nomes como a embaixadora da marca Rhea Jacobs e as irmãs Abdel Aziz, consideradas as Kardashians muçulmanas.
Bastante curiosas, as mansões de sheiks são conhecidas por seu caráter expansionista e uso de pés-direitos altos, cores fortes e mobília abastada, e chamam a atenção dos amantes da arquitetura. Visciglia, que já construiu palácios com cristais nas paredes e garagens para mais de 100 carros, revela algumas das singularidades destes projetos. Confira na entrevista íntegra abaixo:
Qual o pedido mais inusitado que você já recebeu?
Os pedidos são sempre extravagantes. Entre eles, ter vegetação na sala de ou hall de entrada da casa – estou falando de árvores – e até colocar cristais Swarovski na parede, com medidas gigantes nos ambientes.
As casas costumam ser grandes, extravagantes, cheias de ouro, prata e pedras preciosas, ou tem um pouco de mito nisso?
Sim, em algumas casas ainda continua essa cultura de serem grandes e extravagantes, sempre usando o over nas matérias primas. Eu falo da geração mais antiga, que ainda sente a necessidade de se mostrar entre amigos e sociedade. Mas [essa extravagância] é um mito no dia de hoje, porque a geração nova é mais ciente de espaço e também de valores.
Existe algum cômodo que eles precisam ter nas casas que é diferente do que estamos acostumados?
Sim, eles chamam de Majelis, que geralmente é um cômodo onde todas as casas têm. Os sheiks o usam para encontros diários entre homens – como fosse um clube. Eles também usam para reuniões, celebrações até mesmo para servir refeições. As mulheres não estão autorizadas a entrar.
Fora o essencial, o que não pode faltar na casa de um sheik?
Nas casas de sheikes, sempre é importante ter a área e cômodos dos funcionários – motoristas, empregadas e também cozinheiros. Sempre se terá duas cozinhas, sendo que uma é onde se faz e de onde trazem as comidas, e outra que é só para servir, pois eles não aceitam cheiro de cozinha dentro da casa.
A simplicidade e o minimalismo têm espaço na casa de um sheik?
Sim, cada vez mais vem ganhando espaço e dominando muitas casas. Eles estão aprendendo a reconhecer o valor do simples e do minimalismo. Eu, por exemplo, o uso na maioria das minhas obras.
Os sheikes costumam gostar de designers e peças assinadas? Neste quesito, imperam as referências ocidentais ou existem nomes do próprio Oriente Médio em destaque?
Sim, eles reconhecem marcas e designers na área de arte e de arquitetura. Mas apreciam o trabalho do arquiteto e também a criação única para os projetos deles. Nos projetos, sempre faço mistura entre minhas criações e peças de grifes que eles reconhecem.
Existe alguma tendência forte entre as casas dos sheikes? Estilo de construção, paleta de cores etc.
Sim, usamos uma linguagem de construção e materiais que sempre é predominante no estilo de construção aqui. A tecnologia está sendo cada vez mais usada nas obras.
Um sheik realmente costuma ter mais de uma esposa? Isso interfere na arquitetura da casa? Como?
Sim, eles têm a cultura de ter mais esposas (a geração antiga), mas isso não quer dizer que moram todos juntos. Cada esposa tem sua casa e sua família com o sheik. Depois da primeira esposa, que fica no palácio, as outras esposas têm casas menores – lógico, luxuosas, mas com a arquitetura de acordo com as necessidades.
Quais pedidos ou projetos mais te marcaram ao longo desta trajetória? E por quê?
Eu sempre falo do projeto dos cafés da Papparoti. É um projeto de sucesso onde eu desenvolvi uma marca não só nos Emirados, mas também conquistei a Ásia e Europa. Todos os trabalhos são desenvolvidos por mim e eu represento a marca, até mesmo fazendo um café específico no Dubai Mall para receber o sheik nele.