And the Oscar goes to… é mais ou menos assim que deveríamos anunciar o Pritzker, já que a premiação é considerada o Oscar do universo da arquitetura. E falando sobre o prêmio anual, foi divulgado hoje (03) as contempladas, duas profissionais irlandesas. Yvonne Farrell e Shelley McNamara, de Dublin, foram laureadas pelo mais importante marco da arquitetura.
Se você não as conhece (e está tudo bem), vamos dar aqui um resumão da trajetória da dupla e explicar os motivos que levaram o júri do Prêmio à escolha.
Os projetos de Yvonne Farrell e Shelley McNamara são bem diferentes dos premiados anteriores, como Frank Gehry e Zaha Hadid. Como em qualquer grande prêmio global, o Pritzker pode celebrar uma tendência global, uma crítica cultural ou aspirações para o futuro. Onde fica Farrell e McNamara? Os projetos delas tendem a serem estruturas grandes e acessíveis, que se encaixam criativamente em espaços não prescritos. Além disso, a técnica característica das arquitetas se inclina para a crescente prática da arquitetura ecológica. E, talvez, nenhum projeto delas resuma melhor essa visão do que a UTEC, a Universidade de Engenharia e Tecnologia de Lima, no Peru.
Neste projeto, a área ocupada é um espaço incômodo, que atravessa a curva de uma estrada principal e um bairro de prédios com apartamentos de tamanhos variados. Farrell e McNamara abraçaram o desafio. A resposta delas foi moldar a fachada norte do edifício em um penhasco artificial (remanescente de Machu Picchu), que, efetivamente e engenhosamente, cortou grande parte do barulho da estrada ao chegar às salas de aula no lado sul do edifício. Um telhado verdejante foi projetado para que a vegetação acabe transbordando e cobrindo o “lado do penhasco” da construção, escondendo ainda mais as mãos dos arquitetos dentro do espaço altamente urbanizado.
O campus vertical evoca a grandeza e a liberdade do brutalismo, enquanto adiciona um interior de escadas e corredores parecidos com a arte de Escher. Em outras palavras, Shelley McNamara e Yvonne Farrell absorveram elementos do passado e o transformaram em algo com sua própria visão única. É pela atitude de projetar para um local específico, pela consideração do meio ambiente e pela capacidade de serem cosmopolitas, abraçando a herança de cada localidade, que as fizeram merecedoras da premiação.
A UTEC também ganhou o prêmio RIBA International 2016 e, além dele, as profissionais venceram a premiação “o Edifício Minudial do Ano de 2008” com a Universita Luigi Bocconi, em Milão.
Falando um pouco sobre a trajetória das profissionais, ambas nasceram na Irlanda, mas se conheceram no início dos anos 1970, enquanto estudantes da University College Dublin. Em 1978, a dupla formou a Grafton Architects, uma empresa especializada em projetar edifícios universitários. Em 2018, foram nomeadas como curadoras da 16ª Bienal Internacional de Arquitetura.
Com o anúncio de Farrell e McNamara como os vencedoras de 2020, seus nomes aparecerão ao lado de Frank Gehry, IM Pei , Zaha Hadid, Philip Johnson, Oscar Niemeyer, Norman Foster, entre outros.
Em uma indústria dominada por homens, como a arquitetura, não se pode ignorar que Yvonne Farrell e Shelley McNamara são a quarta e quinta mulheres a ganhar o Prêmio Pritzker em seus 41 anos de história. Zaha Hadid, a primeira vencedora feminina do Pritzker, disse uma vez que a arquitetura era sobre abrigar pessoas. “Mas também é sobre o prazer”, acrescentou. Se a arquitetura é, pelo menos parcialmente, uma performance de entretenimento público, há muito tempo que temos mais atores femininas no palco.
Confira na galeria abaixo mais 5 projetos da dupla irlandesa!