O Pavilhão da Deca é o projeto de João Panaggio para a CASACOR Rio 2023. Erguida do zero, a construção é um “bloco” monolítico e visualmente leve, com 300m² e grandes vãos livres, viabilizados através de um sistema construtivo seco que permite erguer estruturas metálicas de sustentação, em apenas duas semanas. “Bebi na fonte do período modernista da arquitetura brasileira”, revela ele.
A fachada principal do pavilhão é composta de um grande muro com acabamento cimentício rústico, num tom marrom envelhecido (linha Estrusco, da Castelatto), e uma sequência de brises fixos de madeira carbonizada, que evocam a técnica milenar japonesa shou sugi ban e despertam a curiosidade sobre o que tem dentro da “grande caixa”. Já a fachada oposta é um vão totalmente livre de pilares, aberto para o jardim.
Internamente, a água foi incorporada ao projeto como um elemento central e divisor. Repare na piscina em “raia”, com volume único, que atravessa todo o pavilhão ao centro e setoriza os espaços – de um lado fica a área de convivência (com cozinha, jantar, living e sala das poltronas integrados), enquanto do outro lado fica a área íntima (com quarto, spa, sala de banhos e jardim de inverno, também integrados).
Um rasgo no teto acompanha esta raia, servindo de claraboia para potencializar a presença de luz natural dentro de casa. “Este recurso também aumenta consideravelmente a sensação de bem-estar e frescor”, explica Panaggio, que se inspirou nas antigas termas romanas.
“A conexão entre arquitetura e indivíduo era um dos elementos centrais nas termas romanas e a água um símbolo de força, limpeza e relaxamento. O mesmo se aplica ao projeto do Pavilhão Deca. Aqui, a água é um elemento de movimento que rege o percurso dentro de uma planta circular”, justifica.
Segundo Panaggio, a integração entre espaços através de grandes planos livres é uma tendência forte na arquitetura atual. “Começamos integrando a sala com a cozinha, depois passamos a integrar quarto com banheiro e agora partimos para a integração de todos os ambientes da casa, inclusive com as áreas externas”, pontua.
Outra tendência atual retratada em seu projeto é valorização do mobiliário brasileiro de design assinado, tanto as criações do período moderno como da safra contemporânea. E, para isso, o arquiteto contou com a curadoria de João Caetano, expert no assunto, que selecionou peças do Arquivo Contemporâneo Oficial, como a poltrona Cubo de Jorge Zalszupin, a poltrona Moleca de Sergio Rodrigues, a poltrona Esfera de Ricardo Fasanello, a poltrona MP61 de Percival Lafer, a poltrona Bertioga de Jean Jillon, a mesa de jantar Xamã de Arthur Casas, as cadeiras 22 de Etel Carmona, a poltrona Infinito de Lia Siqueira, as poltronas Astúrias e Saquarema de Carlos Motta, a mesa de centro Onda de Guilherme Wentz e a cama Matriz de Jader Almeida.
Não menos importantes são as obras de arte que contaram com a curadoria de Lurdinha Piquet, muito bem representadas pelos artistas Arthur Lescher e Laura Vinci (da Galeria Nara Roesler), Ivan Navarro e Hector Zamora (da Galeria Luciana Brito), Mauro Restiffe (da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel) e Gabriela Garcia (da Galeria Lume).
“Na decoração, no geral, apostei em materiais e acabamentos em tons terrosos, madeiras mais escuras e avermelhadas e tecidos crus com tramas naturais para reforçar a integração dos espaços internos com os jardins da área externa. O MDF no padrão Nogueira Flórida, da Duratex, está presente em toda a marcenaria do espaço, com exceção da estrutura em aço inox da estante, que vai do piso-teto e abraça quase toda a área social”, finaliza o arquiteto João Panaggio.